domingo, setembro 18, 2005

Encerramento

O que se passou por aqui denuncia flagrantemente as companhias que eu tive durante dois anos na escola onde leccionei. Durante esse tempo todo o que mais via eram caras a virar para outro lado quando chegava. Foram difíceis esses tempos...No dessidi encheram-se de coragem e disseram anonimamente o que nunca disseram em dois anos de trabalho em equipa...
É agora altura de fechar esta porta. Não posso permitir que estes meus escritos parem nas mãos de quem não está à altura.
O dessidi está assim desde este momento encerrado. Um facto que me entristece, acreditem-me; afinal era um espaço meu onde depositava tudo o que me vinha à cabeça, livremente.
Outro blog no entanto surgirá, com outra cara, outro nome. Enviarei o novo endereço aos que me interessam. Os outros, espero que não me ponham mais a vista em cima. No entanto, desejo-lhes os maiores sucessos no melhoramento das suas vidas. Desejo-lhes, claro, aquilo que desejo para mim mesmo. Nem mais nem menos.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Deixa cá provar



A gaivota não sabia onde se estava a meter. Viajara dias seguidos, desde uma ilha das Canárias e, ao aterrar na Madeira, escolheu logo a baía do funchal. Quando percebi que ía beber daquela água gritei ao mesmo tempo que disparei a máquina. Ela virou-se para mim e, com uma cara de enjôo, disse: "Acho que engoli um persevativo...! Desmaiou logo de seguida. Levei-a ao hospital. Lá disseram-me que não tratavam de gaivotas, que tinha de me dirigir a um veterinário. Mas esta gaivota é especial, disse, ela fala!. Para mim, responderam-me, não passa de uma gaivota desmaiada. Faça o favor de se retirar.
O veterinário não estava na clínica. Mandei tudo para o caraças e fiz respiração boca a boca ao animal. Ela reagiu, tossiu e vomitou um persevativo inteiro. Como é possível que naquelas águas boiem persevativos, entre sacos, garrafas, latas e...cagalh...????
A gaivota partiu triste para as canárias. Dizia conhecer melhor aquelas praias.
Outra coisa que não percebi foi porque é que a gaivota se inclinou para beber água salgada...? Não tive tempo de lhe perguntar.

terça-feira, setembro 13, 2005

O vôo

Não sei já há quanto tempo foi. O meu pai andava a fazer jardinagem e a minha mãe tinha saído para as suas compras diárias. O nosso castelo ficava num monte, entre outros mais baixos. Decidi nesse dia voar com o meu cão, Bubas. O meu pai viu-nos, esboçou o seu natural sorriso compreensivo e disse já distraído com as plantas muito verdes, volta para jantar ou a tua mãe fica preocupada!
Partimos juntos.
Descemos o monte e montámos o nosso cavalo branco. O Bubas adorava andar de cavalo. Afastámo-nos 7 dias e 7 noites só parando para dar de beber e comer ao cavalo. Chegámos a um reino que desconhecíamos e as pessoas olhavam-nos admiradas, cumprimentando-nos sempre com simpatia.
Conseguimos audiência com o rei. Disse-lhe que queríamos voar, se ele podia proporcionar-nos isso, que o meu pai dizia que era impossível. O rei riu e soltou palavras amigáveis por entre as suas barbas brancas como a cal: apareçam as 5 da manhã que o meu mago irá resolver o vosso problema.
O mago de madrugada apareceu vestido de branco opaco e levou-nos ao topo de uma montanha muito alta. Sabem, disse, aqui se faziam noutra era os sacrifícios humanos para se aplacar a ira dos deuses; e continuou, hoje já ninguém acredita em deuses....O seu olhar tranquilo transformou-se e adquiriu uma luminosidade faiscante e terrível. O Bubas ganiu e eu senti um calafrio que me sacudiu todo o tronco. Nesse momento ele gritou com os braços abertos em direcção ao céu e utilizando uma voz que parecia um trovão articulado pelo verbo da nossa língua: Deuses! Ouçam-me! Eles podem voar!
Disse-nos para nos aproximarmos da beira do precipício. A minha mente disse não mas o corpo moveu-se parando-me com a ponta dos pés a beijar o vazio. O Bubas estava na mesma posição. O mago disse com voz serena e hipnótica: Agora, minhas crianças, vão voar. E nesse instante os nossos corpos tombaram para a frente e deixaram-se cair. Percebemos que a queda no solo abaixo era inevitável. Agarrei no Bubas e fechei os olhos. Quando os abri o Bubas estava com aquele ar calmo e parecia sorrir. A 100 metros do solo uma nuvem surgiu do meio do nada. Aterrámos nela. Ela sustentou-nos no ar e parecia que nos ia pousar no chão mas não. Levantou-nos e passou a montanha onde o mago no topo se agitava convulsivamente, espumando pela boca. Soubemos nesse momento que no entanto, o mago estava bem. A nuvem carregou-nos nos céus onde pudemos ver em baixo a formação dos rios, a forma dos lagos e das aldeias, as estradas como veias e o verde pasto dos campos. Ao fim de muito tempo, tendo passádo muitas terras, diferentes e iguais, vislumbrámos o nosso castelo ao longe e um cavalo branco deitado na relva. Era o nosso. A nuvem pousou-nos no chão, dissipou-se e o cavalo acordou num relincho. Voltámos contentes ao castelo. O meu pai estava outra vez a jardinar. Sabia que ia agora ter aguentar a aprovação de um castigo severo. O meu pai olhou para nós e estranhamente sorriu da habitual maneira: Já voltaram? A tua mãe acabou de regressar das compras e está a fazer um lanche, vai lá dizer-lhe que estás cá. Pai? Em que ano estamos? O meu pai virou-se para as plantas e suspirou, 1346, Dezembro. Acabaste de fazer 15 anos.
Sim. Foi nessa altura que esta história se deu.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Limites

Às vezes(?) guiarmo-nos pelos outros pode ser fatal. À bocado fui estacionar o meu carro entre outros dois e deixei-o um pouco mais para fora da linha que ambos me deram. Pois fiquei a um passo do passeio. Os dois bobocas estacionaram mesmo no limite da linha. Pois é...andam uns no limite e vai uma pessoa adivinhá-lo....
Entrei no carro e estacionei-o bem junto ao passeio. E isto inspira uma história.
Um melro saiu do seu ninho numa manhãzinha fresca e pousou num galho ali perto pois as suas asas ainda não estavam secas o suficiente para grandes voos. Espreitou o sol que por entre as nuvens olhava timidamente e viu um outro melro saudar o dia com um breve assobio. Ora, uma serpente, acabadinha de acordar, suspirou ao ouvir tão doce som e, com a língua a sair e a entrar da boca, começou a escalar o tronco que a levaria a tão tenro manjar. O primeiro melro, insatisfeito com o saudar do segundo decidiu compor uma bela sinfonia ao belo astro para que este dissipasse as nuvens aborrecidas de entretenimento. Distraído, o melro piava como nunca havia piado. A cobra, que desviara a atenção para este primeiro melro, desviou-se da rota inicial e começou a aproximar-se lentamente, de olhos negros da morte que a sua língua ambicionava. A dois metros do pássaro a cobra parou, o melro estremeceu, abriu os olhos, abriu as suas asas e...voltou a fechá-las. Recomeçou a sua sinfonia, mais bela do que nunca, perfeita na sua harmonia de pássaro contente. A cobra recomeçou o seu rasteio devagar, devagarinho e, mesmo quando chegou ao pé do melro, abriu a sua boca no momento em que a sinfonia acabava. O melro abriu os olhos, satisfeito pela sua obra, iluminado pelo sol e sorrindo olhou a cobra. Esta manteve a sua boca aberta mas não percebeu o que no sorriso do melro havia, porém,algo que a mantinha, ainda que preparada para morder, imóvel e paralisada. O melro deixou-se tombar para a frente, caiu alguns metros e abriu as suas asas começando um vôo especial, duas piruetas para a frente, duas piruetas para trás e, imprudentemente, poisou no chão onde tantos inimigos o podiam apanhar. A cobra, deliciada com o acordar de um estado hipnótico e rejuvenescedor , olhou para baixo viu o melro e largou-se caindo em cima dele, engolido, assim, de uma vez só.
Depois um som surpreendeu a cobra. Olhou para cima e viu o segundo melro a piar, tímida e simplesmente, como que a despedir-se de uma lição para a vida inteira. Voou com o semblante soturno, fechado e carregado. Nunca ouvira nenhum melro cantar assim.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Encontro

Perdeu o cartão de crédito e deambulava com os bolsos de fora, vistoriados por mãos cansadas e ansiosas por tocar em poder material. Estava bêbado há cinco dias e acabara num momento de colocar os olhos no chão tremeluzente quando de trás de uma árvore saltou uma sombra que se pôs a falar sozinha. " Que sonho será o dia em que alguém neste mundo de luz me possa ver e ouvir" Abismado pelo acontecimento o bêbado coçou a cabeça por baixo do gorro sujo e malcheiroso e sentiu as pernas serem invadidas por uma tremura inquietante. A sombra virou-se para ele e os seus olhos sorriram. Os joelhos do bêbado cederam e foram de encontro ao chão. A sombra continuou a olhar o bêbado que sentiu um calor distribuir-se e acumular-se no peito. O seu tronco foi projectado para o solo e dos seus olhos saía uma luz brilhante de tons prateados. A sombra ainda sorria. O bêbado em esforço ergueu o rosto e olhou nos olhos irónicos da sombra. Esse rosto de expressão perturbada caiu no solo e o bêbado desmaiou após pensar que estava a ter visões.
A sombra aproximou-se do corpo inerte do bêbado. Quando lhe tocou o bêbado teve um estremecimento; mas não acordou. A sombra levantou-o em toda a sua frieza e começou a carregá-lo em direcção à noite e ao acaso de todos os caminhos que, mesmo sendo incertos, conduzem sempre, certa e inevitavelmente a algum lado. Olhou para cima e viu o céu estrelado. Tinha o bêbado em cima do ombro e, ao olhá-lo de lado murmurou com carinho "o nosso sonho começa agora, não mais beberás meu amigo, deixámos ambos de andar sozinhos...".

Adivinha

Duas galinhas entram num blog e desatam a cacarejar
das duas uma não se afirma e a outra não se confirma
qual das duas é mais galinha qual terei de depenar?

domingo, setembro 04, 2005

Blues

I think of you, I think of him
I'de like us to be a team
I think of her I think of me
I' de like we both could live under the sea

I am a worried man, I do whatever I can
And I am a dreamer, huuu, sweet dreams I have

I thik in peace I think in war
I think in what we are living for
I think in life I think in death
I'de like to have now her precious breath

I am a dreamer, I dream of all
I am a thinker, thinking to much
I think I dreamed feeling your touch
And I am a worried man, yeah I am a worried man

sábado, setembro 03, 2005

Sou, estou.

Esqueci-me de dizer, de exclamar, que grande conversa tiveram as senhoras na minha ausência!
Psicoterapia...
Contudo, neste momento estou triste. Acho que me vou deixar ficar assim. Ir à festa das vindimas assim. Triste, triste, triste.
Estou sem forças, não quero lutar. Quero dizer somente que amo profundamente a passagem dos tempos. Uma grande onda, uma grande maré, um grande suspiro e eu, uma pequena pena que adora fazer coisas, entre as quais, no mundo humano, contestar. Tenho a certeza que vale a pena. Europa vive em paz e vende armas. Estou tranquilo, estou aflito e fito, não finto. Sou fraco e sou forte e não minto. Sou tanta coisa má.
E estou triste.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Sociedade

A integração a algo tão complexo como aquilo a que chamamos de sociedade e que tal qual um organismo vivo se encontra em permanente mudança não se faz, vai-se fazendo.
Mas...não há só uma sociedade no mundo...será que não se está a avançar para a fusão das várias sociedades existentes, bem como das filosofias que as sustentam? Não será essa fusão universalista imprescindível? Urgente? Qual é a filosofia que sustenta esta sociedade? O que é que eu sei do mundo? Será que vamos a tempo de o salvar?
Ah!, o que é ser feliz?

Voltando.

No momento em que encontrei o dessidi, vindo de férias, fiquei fascinado pelo número de comentários do último post. 33! Wow, it´s a great number! Thanks! Deu para desprezar, sorrir e mesmo rir.
Afirmo que Lyra's post wasn´t removed by the author.


Pois é Nataly...Não fui eu que as vendi, quero as minhas acções de volta! E olha que a curiosidade mata!
Lyra...! Tenho de ir espreitar a tua embarcação!
B. Contigo vou até ao fim do mundo, salto de mãos dadas para o vazio e descubro uma nova terra para povoarmos. Esta está tão estragadinha...