terça-feira, setembro 26, 2006

Vende-se

Canon Powershot Pro 1 - 8 megapixels
450 Euros

sábado, setembro 16, 2006

Bombástico

A poeira do tempo caiu-lhe de repente em cima. Uma tempestade de tempo que sem aviso surgiu do nada. Passou rapidamente e foi-se embora, como um espirro. Mas ele ficou cheio de tempo em cima; tempo que lhe pesava e tornava difícil o andar. Tentou sacudir-se. O tempo parecia multiplicar-se. Ficou velho, desanimado, sem vontade de lutar. Num momento de reacção tomou um duche. Quando saiu da banheira e passou no corpo a toalha, esta grudou-se à sua pele. O tempo agora parecia melaço, melaço pegajoso. Caiu, levantou-se, caiu novamente; deixou-se ficar.
"Maldito tempo. Maldito tempo que não me deixa caminhar"
Acordou com o gato a lamber-lhe o queixo. "Puxa! que pesadelo!" pensou. Mas quando foi à casa de banho viu a toalha. Estava pegada aos azulejos. Tudo se passou. Tudo passou. Tudo passa. Tudo passará.
E o tempo está a passar-se agora, pesado, passado e presente.
Corta o bolo rei e a primeira coisa que vê é a fava. Arranca-a de uma vez com os dentes e mastiga-a sem raiva, pensando apenas que também as coisas más são para se gozar.
Está farto dele próprio. Não acredita nas pessoas. Eu digo-lhe que devia acreditar. Tenta arrancar a toalha do chão e esta rasga-se. Nesse momento o gato mia, quer comida. Ele sorri, pega nele e tira uma lata de atum do armário. O gato percebe e mia mais uma vez. Dá o atum ao gato e senta-se a seu lado maravilhado com a fúria que o gato demonstra no comer. Não pensa em mais nada. O gato acaba o atum e esfrega o focinho na perna dele em sinal de agradecimento. Nesse momento sim, ele pensa:"Merda para o tempo!" O gato salta para o colo dele e procura-lhe o rosto com o seu. Ele retribui a carícia e pensa outra vez:" Merda para o tempo!"
O gato olha para ele e ele percebe com a calma de um leão ferido que a bomba que tem na pasta não vai rebentar nas suas mãos. E eu digo-lhe:"estás a pensar bem, agora levanta-te, lava o prato do gato, e vai dar uma voltinha antes que a noite venha e encha tudo de escuro outra vez."

sexta-feira, setembro 08, 2006

Gaivotas

A brisa daquele dia soprava quente. Os homens há muito que se tinham feito ao mar, para nele passarem a noite. A praia estava deserta. Tudo o que as pessoas tinham lá deixado, para além dos risos e palavras, eram as pegadas.
Foi quando o sol começou a confraternizar com o horizonte que ela apareceu, do fundo da praia; poder-se-ia dizer aparecida do nada, primeiro uma silhueta, depois uma forma bela e bem definida.
O seu rosto, iluminado pelo adeus que o sol fazia àquele dia parecia em brasa, avermelhado. Os seus olhos negros fitavam, sem desafiar, a parte do horizonte onde o rei mergulhava. Foi quando se pôde vislumbrar um bando de gaivotas, atrás da mulher; parecia segui-la.
Quando ela parou, a meio do areal, o bando aterrou na areia e deixou-se ficar ali, rodeando a mulher, agora sentada, que, afinal, as alimentava com um tipo qualquer de comida que não pude distinguir.
Eu estava longe, no terraço de um prédio de doze andares e por isso, podem depreender que vi mesmo tudo, que esta história realmente aconteceu.
Passado alguns minutos, ela levantou-se e levantou calmamente os braços num sinal de ordem. Todo o bando levantou vôo, à excepção de uma gaivota que fitava directamente os olhos da mulher . Baixou os braços e levantou-os imediatamente numa nova e mais peremptória e firme ordem. A gaivota manteve-se imperturbável, descendo o olhar para a boca bem delineada dela.
Foi nesse instante que desmaiei. Cai e fiquei para ali estendido no chão. Lembro-me apenas que a última coisa que pensei foi "gostava de ser aquela gaivota".
Quando acordei vi os lábios dela; aquela boca bem delineada soprava para os meus olhos para os acordar. Eu estava no seu colo. Ela então disse-me, És um malandro, não paras de desafiar, e eu respondi-lhe, Por isso gostas de mim, Sim, entre outras coisas, por isso gosto de ti...
O olhar apaixonado dela abraçou-me a alma. Senti-a (a alma) fervilhar. Ela disse, Queres ir nadar?, eu sorri e respondi-lhe pegando-lhe na mão, obrigando-a a correr atrás de mim, Não!, prefiro voar! E nesse momento eu já não era eu, nem ela ela; fundimo-nos num corpo só; um corpo de duas gaivotas que amavam, acima de tudo, a tão bela e necessária arte de voar.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Percebes?

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domingo, setembro 03, 2006

Laços

O vento soprava ligeiro e muito de quando em quando. Uma criança ocupava-se em manter um papagaio triangular, muito colorido, no ar. Um pai babado olhava a filha que tentava encestar a bola no cesto do parque; o mesmo pai de vez em quando tentava o mesmo e quando falhava a filha dizia-lhe: fizeste de propósito!
Muitas crianças andavam em carros movidos a pedal à volta do parque, subindo e descendo pequenos degráus.
As gaivotas banhavam-se, reunidas num grande bando, e fintavam os barcos que por ali passavam.
As árvores fingiam que não sentiam nada. A relva servia de almofada.
O sol naquela altura estava fraco e naquela altura as nuvens que existiam transformaram-se num segundo, transformando tudo de repente, emprestando a esse tudo uma nova e muito contrastante tonalidade.
Em pouco tempo anoiteceu e deixei de poder ver o que acontecia. Tive medo. Tentei afugentar esse grande porcalhão. Não consegui.
Meti-me debaixo do cobertor e ao desistir de compreender o medo partiu e adormeci. Acordei de madrugada com o choro de um menino. Olhei melhor. Estava sozinho. Dirigi-me a ele e deixei-me ficar a seu lado com a cara mais fechada que uma noz. Passado um minuto disse-lhe, Força! Às vezes temos mesmo de chorar!
Ele continuou com convulsões a ejectar lágrimas para cima do seu rosto. Eu, uma noz a olhar o horizonte.
Quando parou de chorar limpou as lágrimas e a partir daquele momento nem eu nem ele pudémos voltar a ser os mesmos. Ele aproximou-se um pouco mais da triste e alegre, da complicada condição humana. Eu também...