segunda-feira, novembro 05, 2012

Nomes

O tempo esgotou-se; depois daquelas palavras soube que jamais iríamos falar novamente, embora não tivéssemos dito adeuses. Quando alguém me desilude sofro; menos pela dor de ter de fechar um ciclo e mais pela constatação de que estava iludido. Porém, quanto a ilusões, o pior é quando sou eu a iludir. Que direito tenho eu de vestir um casaco bonito e sorrir, simpático, para pessoas desconhecidas, sabendo de antemão que nada mais lhes tenho para dar?  Engano-as por um momento. Um momento quente, uma promessa no calor da amizade, um calor que me obriga a despir o casaco; e é nesse momento, nu, que o medo invade tudo à minha volta; o olhar turva-se-me e o sorriso convidativo é percebido como uma barreira de papel, por detrás da qual se esconde um ser que já não é capaz de comunicar. Falta-me o sentido de pertença para poder partilhar as minhas histórias, vitórias, derrotas, deslumbramentos, completa sintonia com as forças da natureza; falta-me esse chão para poder abrir um canal.
Mas, lembro-me que contigo tudo foi diferente: o meu sorriso surgiu ao mesmo tempo que o teu; o compromisso social foi logo depois estabelecido por nós: estabelecemos, no silêncio, a garantia de uma amizade pacífica. E, apesar de no silêncio dos encontros seguintes, a amizade ter sido esmorecida, acreditei que ambos precisávamos de ser salvos um pelo outro. Foi preciso uma grande dose de coragem para, ainda em silêncio, te dar a minha mão; quando pousaste a tua na minha, tudo se tornou mais fácil e começámos a dançar até à exaustão. Nesse momento, caídos na cama confortável desta civilização trocámos um olhar cúmplice, recuperámos o fôlego, e andámos o tempo necessário para descobrirmos em sorrisos de alegria a ponta do céu que nos faltava. Já não me lembro se fui eu ou tu quem riu primeiro quando começou a chover torrencialmente. O tempo estava quente; deitámos lentamente na relva os nossos corpos esgotados e felizes, e deixámos a água cair, rindo às gargalhadas. Essa chuva de verão durou cinco minutos; os necessários para nos sabermos ligados fortemente por uma força cujo nome, sabia-mo-lo bem, teria de ser defendido e acarinhado, pronunciado em sussurro e, sobretudo, vivido na calma certeira de quem encontrou no outro a sua própria identidade.