domingo, junho 30, 2013

Anunciada

Apareceu-me um sinal escuro na pele que se multiplicou por sete pelo antebraço. Já fui ao médico. Tenho mais dez anos de vida. A morte, antes concreta mas vaga, distante, aparece-me hoje à frente do corpo e esbofeteia-me o rosto uma e outra vez. De um momento para o outro a razão de existir ergue-se na minha frente qual falo gigante empinado pela humanidade para a humanidade. Foi nessa ocasião que nasceu em mim o coleccionador de sorrisos.
Na cidade onde vivo as pessoas raramente passavam do anonimato. Hoje, assim que saio de casa, grito para a primeira pessoa que vejo: Bom dia! Vai um sorriso? 
Outra coisa que mudou foi a atenção que dou ao ciclo da lua e das marés. Na lua nova faço sempre uma refeição familiar para mim e para os meus cães e gatos. Na lua cheia vou sempre para a praia onde faço uma fogueira à volta da qual danço freneticamente, ao ritmo das estrelas. Nas outras noites vou à procura de pessoas que têm poucas razões para sorrir e ofereço-lhes jantar na minha casa. Os meus olhos só se iluminam verdadeiramtente quando os seus sorrisos me entram no peito adentro. Especializei-me em anedotas. Conto uma assim que acabo o perfil psicológico de quem me rodeia. Na maioria gente sem tecto que dorme nas ruas, que tem o sangue habituado a quantidades generosas de vinho de má qualidade.
Não aguento mais. Preciso urgentemente de ver um sorriso. Hoje a maré está cheia às três!

domingo, junho 23, 2013

Parabéns

terça-feira, junho 18, 2013


O meu amor tem olhos de luz, hálito de fogo e riso musical.

sexta-feira, junho 07, 2013

Quem és tu?

No outro dia vi-a sentada de olhar esvaziado para lá da linha do horizonte. O mar, imóvel, parecia uma grande pedra de mármore azul e verde sobre a qual as gaivotas dançavam, numa tranquilidade a transbordar da tensão que todos os animais experimentam quando são naturalmente obrigados a viver uns com os outros; a harmonia do voo conjunto era interrompida por movimentos bruscos de ataque e manutenção da hierarquia estabelecida no grupo. As gaivotas são como alguns homens, só estão em paz quando a guerra as faz voar.
Aproximei-me dela que rodando o olhar fixou os olhos nos meus. O infinito dela acomodou-se dentro do meu. Ela fechou os olhos e desmaiou. Nesse momento senti uma dor feroz na cabeça e também sobre mim as trevas tombaram . Quando acordei, na cama dela, vi o passado sob a espada do presente, e ela, ao meu lado, sentada numa cadeira de balanço e olhando para dentro da parede do quarto, sorria, pacificada. No seu colo repousava um pequeno caderno onde pude ler, escrito a sangue e em maiúsculas: “EU SOU EU! QUEM ÉS TU?”.

domingo, junho 02, 2013

Carlos Macedo