sábado, outubro 25, 2014

Ratos e homens




Passeava com o mar à sua direita. O paredão, altíssimo, erguia-se á sua esquerda; entre os dois havia uma área com plantas e flores.
Viu um pequeno rato morto, com a cabeça esmigalhada e passou por ele. Mas logo voltou atrás para lhe pegar pela cauda e jogar o animal para o terreno plantado.
Continuou a caminhar até que, com grande surpresa, viu outro rato, um pouco maior, também morto da mesma maneira. Agarrou nele e lançou-o para as plantas.
Só depois do passeio pensou que a sua atitude poderia nem ter sido a mais correcta pois com o passar do tempo os animais provavelmente iriam exalar o cheiro acre da putrefacção. E nisto de saber fazer o mal ou o bem, pensou, entre eles há uma ponte enorme onde o espaço não existe.
Depois de passar o segundo rato encontrou um homem sentado no chão a chorar. Dizia repetidamente e baixinho, Matei-o, Matei-o. O primeiro homem, o do passeio, perguntou ao segundo o que ele tinha matado. Ao que ele respondeu, Um homem, matei um homem. E assim temos um terceiro.
O primeiro deixou o segundo no seu pranto e mais á frente encontrou o terceiro. Tinha a boca aberta como se a preparar-se para falar, e o corpo já estava a esfriar. Pegou nele com cuidado e ergueu-o em braços não sabendo onde o deixar. Acabou por fazê-lo no primeiro estabelecimento que encontrou, um pequeno café restaurante. Aqui tem um corpo, falou alto, Morreu há pouco tempo. Estendeu-o ao comprido no chão e foi-se embora. Na cabeça um pensamento insurgia-se serena e repetidamente, É bom existir…é bom existir.