sexta-feira, fevereiro 28, 2014
A brincadeira
Chegou com duas amigas no momento em que o dia fazia as
pazes com a noite. Era bonita, elegante e de gestos lentos e harmoniosos. Sentou-se
ao pé da escada que dava para o mar e adoptou uma postura de equilíbrio em que
os braços se confundiam com as pernas. Foi quando tudo começou. O mar frio cuspiu
sobre o corpo dela, fazendo-a gritar e suscitar o riso das amigas. Mas a
posição, essa, ela mantinha inalterável. Passado um minuto o mar molhou-a
novamente e de novo ela gritou.
Rodando a cabeça ela
cruzou o olhar com o meu e eu fiquei deslumbrado com a alegre inteligência que
brotava faiscante dos seus olhos.
Fiquei sem saber quem é que brincava com quem; ou melhor,
brincavam ambos; o mar brincava com ela e ela brincava com ele numa harmonia
difícil de conceber.
O mar, de minuto a minuto, ia para cima do corpo dela e
escorregava pelo seu corpo delicado para levar dela o seu aroma juvenil e
deixando nela o cheiro de algas comestíveis. E nesta dança ela gritava sempre
da mesma maneira como se cada onda a surpreendesse pela primeira vez. A mim,
que olhava nas alturas do deslumbramento a brincadeira dos dois, deixei-me levar
por pensamentos universais como o da mortal eternidade dos momentos que reside
em todos aqueles que nos são dados viver.