sexta-feira, janeiro 17, 2014

coelho à caçador



Caminhava confiantemente para lado nenhum. De repente, sentiu o pé escorregar e quando foi ver tinha pisado uma poia enorme; quase largava uma blasfémia; revirou os olhos aceitando o presente infortúnio e a vista dele poisou num pequeno jardim mergulhado no orvalho daquela madrugada. Dirigiu para lá o corpo obeso e limpou a sola da bota, mais facilmente do que supusera. Assobiou contente e voltou à estrada, onde encontrou um coelho atropelado; como mexesse ainda as patas traseiras num último processo do seu frágil sistema nervoso, deu-lhe  com o punho duro, o golpe da misericórdia. Quando cautelosamente pegou no animal , este deu um último suspiro e as pernas nervosas calaram-se para sempre.
O homem equilibrou o coelho em cima  do ombro direito e sorriu face à providência universal:” é bem gordinho” pensou, ”já tenho almoço"
Chegou a uma terreola onde um conjunto de casas à beira-mar serviam como restaurantes. “Isto está a correr bem” pensou.
Decidiu averiguar as simpatias hoteleiras e, no último restaurante deu de caras com uma jovem adolescente com olhos muito grandes, redondos e, o que mais o impressionou, com uma tristeza anciã no seu semblante. “É mesmo aqui que eu fico, que rapariga tão bonita!”
Atirou o roedor para cima da mesa mais perto da pequena e disse sorrindo, “a cozinheira que trate esse pitéu, dará facilmente para nós dois. A rapariga engoliu com o olhar toda a franqueza do viajante, e aconteceu-lhe o que desde à muito não experimentava: a sua face iluminou-se- com um sorriso de contentamento. Então, alegremente, chamou:” pai! Podes fazer um coelhinho à caçador? O bicho acabou de chegar!”