domingo, setembro 03, 2006

Laços

O vento soprava ligeiro e muito de quando em quando. Uma criança ocupava-se em manter um papagaio triangular, muito colorido, no ar. Um pai babado olhava a filha que tentava encestar a bola no cesto do parque; o mesmo pai de vez em quando tentava o mesmo e quando falhava a filha dizia-lhe: fizeste de propósito!
Muitas crianças andavam em carros movidos a pedal à volta do parque, subindo e descendo pequenos degráus.
As gaivotas banhavam-se, reunidas num grande bando, e fintavam os barcos que por ali passavam.
As árvores fingiam que não sentiam nada. A relva servia de almofada.
O sol naquela altura estava fraco e naquela altura as nuvens que existiam transformaram-se num segundo, transformando tudo de repente, emprestando a esse tudo uma nova e muito contrastante tonalidade.
Em pouco tempo anoiteceu e deixei de poder ver o que acontecia. Tive medo. Tentei afugentar esse grande porcalhão. Não consegui.
Meti-me debaixo do cobertor e ao desistir de compreender o medo partiu e adormeci. Acordei de madrugada com o choro de um menino. Olhei melhor. Estava sozinho. Dirigi-me a ele e deixei-me ficar a seu lado com a cara mais fechada que uma noz. Passado um minuto disse-lhe, Força! Às vezes temos mesmo de chorar!
Ele continuou com convulsões a ejectar lágrimas para cima do seu rosto. Eu, uma noz a olhar o horizonte.
Quando parou de chorar limpou as lágrimas e a partir daquele momento nem eu nem ele pudémos voltar a ser os mesmos. Ele aproximou-se um pouco mais da triste e alegre, da complicada condição humana. Eu também...

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