terça-feira, outubro 16, 2007

ABRAXAS

E sirva este post para espalhar a tua existência divina entre os homens.

Houve um tempo em que chorava por tudo e por nada, como que adivinhando o terrível destino que o aguardava, à espreita por detrás dos olhos de um irmão amargurado, de um pai zeloso ao extremo da violência e, por último, de uma história humana por demais desumana.
Chegado a casa depois de um dia de trabalho genuíno ele pensava "E os tempos de guerra qualquer avô viveu, os tempos de guerra qualquer recém-nascido testemunha. Nós vivemos em tempos de guerra e queremos ser humanos mas não somos."
O telejornal informava-o de duras realidades sociais.
"Está tudo interligado - pensava - e eu sou um comunista de merda que não luta!"
Aos 18 anos decidiu não falar e o pai arrancou-lhe da boca as palavras de um derrotado. O pai sempre fora o mais forte.
Os olhos agora abriam-se-lhe para um mudo sujo, mesquinho, construído em plataformas de estratégias enganadoras. Mulheres e homens a cuspirem o veneno da mentira em prol da vantagem de um fraco protegido. Tudo gente que agora tinha forçosamente de enfrentar e dominar. Tecer entre todos alianças que o permitissem atingir os seus objectivos: Trabalhar em prol da humanidade que ainda não existe em plenitude, mas sim num sonho de alguns videntes.
E este homem, mais cansado de manhã que de noite, aprendia no dia a dia que nele existia uma identidade mais alta que ele próprio, uma identidade que por vezes se revelava quando sozinho, talvez tímida e envergonhada, talvez a ganhar simplesmente força para um dia se erguer numa única voz e expressão, entre as gentes que mais dela precisa: a identidade de um vidente.
"Há tanta pobreza neste mundo, minha grande divindade Abraxas, tanta gente que acaba por nunca nascer verdadeiramente... eu digo-te isto meu criador aparecido para me salvar, finalmente, digo-te isto imaginando as cascas do meu ovo a deslizar num muco gelatinoso pela minha pele de homem jovem. Exorto-te agora, ó grande Abraxas, que me ensines conforme puderes a forma melhor de ser bom e mau, mau e bom, pois eu estou ciente que nem sou só mau e nem sou só bom. E mais te digo meu deus: Não me facilites a vida. Quero nascer, quero nascer e não tenho medo!"

2 Comentários:

Blogger musalia disse...

eu tenho medo, todos os dias. mas disfarço ;)

11:31 da tarde  
Blogger Filipe disse...

disfarças para os OUTROS não verem ou para TU não veres?
:p

9:26 da tarde  

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