quinta-feira, setembro 13, 2007

O velho da estação

O senhor estava sentado no banco da paragem do comboio. "boa tarde" Lancei-lhe ao passar, intuindo que com ele ia conversar. Vista a parte do fundo da estação, voltei para o pé do velho e "aonde se tiram agora os bilhetes?" Com sotaque alentejano respondeu "Tiram-se mesmo no comboio!"
A conversa lá surgiu, ele com a vantagem da velhice, eu com a da juventude. até que falámos de Deus. Ele: "Mas o que é isso de Deus? Sempre ouvi falar de Deus, desde novo, mas eu nunca vi Deus! " E eu fiquei calado muito tempo e só três dias depois é que a resposta que eu queria ter dado apareceu: "Pois! Como é que pode ver Deus se ele está dentro de si????Não pode! Ninguém pode ver deus!"
Eu: "Então vem para aqui só passar o tempo?""Pois!"
Entretanto apareceu um homem todo janota e perguntou-lhe o mesmo que eu; ele deu-lhe a mesma resposta que me tinha dado e continuou a contar-me rapidamente a anedota que estava a contar, que o comboio acabava de ser anunciado pela voz gravada, fria e metálica, dos tempos modernos. Foi infeliz na conclusão da pequena história mas eu ri-me na mesma. Percebi-lhe o sentido e, sobretudo, a intenção! Não sei onde li uma frase que me apetece repetir, mas que só posso reorganizar pelo sentido: "Certifica-te que deixas os outros mais felizes do que quando os encontraste" (estás lixada comigo ó da barca, estás lixada comigo!)
Eu e o velho apertámos as mãos e despedimo-nos a sorrir um para o outro. E depois eu fiquei a olhar as suas costas que se afastavam lentamente e em paz, e eu a pensar dele:"foste infeliz! velho do caraças! mas mesmo assim foste feliz! Mesmo assim foste feliz!"

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