sexta-feira, novembro 02, 2007

Vida

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É verdade! Há montes de tempo que não crio que só rio, que me abstenho de te ver e encontrar, talvez pelo medo constante de me perder, de dizer ao mundo inteiro que quando sou forte é só a fingir e que quando sou fraco é somente a forma que encontrei de ser forte...
Passam dias como os anos e o abismo à nossa volta vai-se desfazendo cada vez mais frequentemente, à medida que o conhecimento que temos dos outros vai aumentando. E conhecer os outros é meio caminho andado para nos conhecermos a nós próprios, pois da mesma matéria somos todos feitos se nos quisermos abster de moralismos e juízos perenes.
Vejo ao longe uma vaca que rumina por entre os calhaus nus e penso de repente, como quem não pode evitar, porque será que dizem que ao humano é dado conhecer muita coisa mas que a fatalidade, o drama são, à falta de uma palavra mais forte, intui-a se puderes, tudo o que precisamos perceber para levantar de uma vez por todas o nosso cadáver ainda vivo e andar em frente, ser conforme o ambiente, as circunstâncias, fazer força sem forçar, entrar em sintonia e deixarmos definitivamente que a natureza aja em nós para nos colocar com a justiça divina no nosso devido lugar. Tudo se torna fácil quando sabes qual é o teu lugar. Que o teu lugar é só um, inalterável, desde que cresceste até que morreste e que morrer não pode ser mais do que morrer, pronto, já está.
Mas e o prazer de respirar? Já alguma vez pensaste que esse movimento constante é de todos os prazeres, aquele que sendo o mais esquecido, é o mais poderoso, o mais verdadeiro, o mais subtil, aquele que mais do que todos, nos poderá indicar da mais firme forma, que afinal estamos vivos. Inspira! Expira! Vive! Morre! Inspira! Expira! Inspira! Expira! E pronto. Não dá para parar. Somos parte de isto tudo. A guerra que travamos com os outros não passa de uma desculpa para não percebermos com a flagrância imposta a todos os que podem pensar, que a maior guerra travamos connosco próprios. Connosco próprios, connosco próprios...Inspira, Expira. Eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles. Tudo o mesmo. Tudo o mesmo a lutar desde sempre por um lugar, o nosso lugar, um único espaço, aquele que já é teu, simplesmente porque és.
Mas peço encarecidamente, não vos deixais enganar por palavras que, como todas, apenas revelam um aspecto da realidade e, ao mesmo tempo, a ambiguidade inerente a todas as coisas. É que temos de lutar, somos obrigados a lutar por aquela parte nossa que ainda é animal. Lutamos por tudo aquilo que fomos, que somos e que seremos. Lutamos afincadamente por aquilo que já perdemos parcialmente, mais a caminho da totalidade que da parte. É algo a que nos obriga o terrível estatuto de se estar vivo. Seja pelo lugar, para o qual somos inevitavelmente atirados, e no qual nos devemos manter de cabeça erguida e rosto a condizer, seja pela consciência de que nada mais vale nos mundos todos, do que a simples mestria de se ler, na maior pluralidade de momentos possível, naquele, por exemplo, perpetuado por mim, vosso eterno criado, a palavra mais bela e preciosa que os nossos antepassados inventaram para nós, aquela que é nossa e de todos, mesmo para os que não aprenderam a ler, senão nas constelações, nas brisas mornas de Verão, ou nos frescos copos de água que vamos bebendo e que nos obrigam, sempre, a sorrir: Vida.

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