coelho à caçador
Caminhava confiantemente para lado nenhum. De repente,
sentiu o pé escorregar e quando foi ver tinha pisado uma poia enorme; quase largava
uma blasfémia; revirou os olhos aceitando o presente infortúnio e a vista dele
poisou num pequeno jardim mergulhado no orvalho daquela madrugada. Dirigiu para
lá o corpo obeso e limpou a sola da bota, mais facilmente do que supusera.
Assobiou contente e voltou à estrada, onde encontrou um coelho atropelado; como
mexesse ainda as patas traseiras num último processo do seu frágil sistema
nervoso, deu-lhe com o punho duro, o
golpe da misericórdia. Quando cautelosamente pegou no animal , este deu um último
suspiro e as pernas nervosas calaram-se para sempre.
O homem equilibrou o coelho em cima do ombro direito e sorriu face à providência
universal:” é bem gordinho” pensou, ”já tenho almoço"
Chegou a uma terreola onde um conjunto de casas à beira-mar
serviam como restaurantes. “Isto está a correr bem” pensou.
Decidiu averiguar as simpatias hoteleiras e, no último
restaurante deu de caras com uma jovem adolescente com olhos muito grandes,
redondos e, o que mais o impressionou, com uma tristeza anciã no seu semblante.
“É mesmo aqui que eu fico, que rapariga tão bonita!”
Atirou o roedor para cima da mesa mais perto da pequena e
disse sorrindo, “a cozinheira que trate esse pitéu, dará facilmente para nós
dois. A rapariga engoliu com o olhar toda a franqueza do viajante, e aconteceu-lhe
o que desde à muito não experimentava: a sua face iluminou-se- com um
sorriso de contentamento. Então, alegremente, chamou:” pai! Podes fazer um coelhinho
à caçador? O bicho acabou de chegar!”
1 Comentários:
gosto :)
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