sábado, maio 18, 2013

Gerações

Os jovens são sempre, quanto mais jovens, mais insatisfeitos. E a insatisfação inerente a cada um deles pode roer-lhes os sentimentos e a razão de ser e existir até aos confins do que se presume sempre ser o fim dos fins. Mas, para um jovem, não existem fins e sim consecutivos inícios de uma aventura que está sempre por terminar. Vive-se sofregamente o dia-a-dia, cai-se na cama à noite e dorme-se como num desmaio, para os sonhos megalómanos que se têm de dia voltarem com outras subtilezas inconscientes, na mesma essência: o ego monstruoso a comandar os destinos atribulados; e de manhã recomeça-se tudo de novo, com a mesma energia, com a mesma vontade de encontrar o tudo que enche o vazio, com as mesmas ânsias de carregar às costas o mundo inteiro. Olha-se para o mundo ao mesmo tempo maravilhado e entenebrado, num mesmo momento fortalecido e inseguro, mas sempre com aquela embriaguez de se querer sempre mais e melhor. Um sol não chega, é preciso que o mundo apareça aos seus olhos, humanos, com mil sóis a brilhar ao mesmo tempo, numa comunhão constante. E, à hora dos ocasos, quando as cidades se acalmam, é preciso que o horizonte se encha de astros de infinitas cores brilhantes numa canção silenciosa, composta por quem sabe que há vários tipos de despedidas. Sorri-se para as pessoas com a ingenuidade solta da felicidade, sem olhar a diferenças ou idades, com uma igualdade fraterna que abarca um todo que é incomensurável; os limites do tempo convergem para o mesmo olhar, e a força que nele reside é quase infatigável; e como a energia de que se dispõe jorra constantemente das misteriosas profundezas do ser, é preciso que se aviste num velho amigo os incompreensíveis e inimigos traços do cansaço para que a semente da sabedoria seja fortalecida. O confronto silencioso entre o jovem ávido e o velho inconformado gera um equilíbrio universal em que se sustenta para o segundo a capacidade de enfrentar um caminho que já não é difícil e, para o primeiro outra, não menos importante: a de enfrentar o desconhecido e reflectir na imensidão da existência que o rodeia. Neste movimento cúmplice, nesta dança humana, nesta relação geracional, em que o riso esconde a timidez do jovem e o siso o riso do velho, uma nova calma é restituída e ambos crescem um bocadinho na direcção do desaparecimento. A morte, maldição para o jovem que tudo quer e salvação para o velho que já tudo teve, brinca no meio dos dois e sorri, contente.

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