Lugares
As pedras, inchadas de tanto serem pisadas, gritavam em silêncio os nomes dos transeuntes. Para os mais atentos, surgiam histórias passadas, encontros alegres e discussões acesas. Tudo escrito nas pedras da calçada daquele átrio que se estendia da igreja secular. Esta era dotada de um torre alta onde no cimo dançavam sinos que alegremente tocavam o adagio da 9ª sinfonia de Beethoven.
Passei lá uma vez por acaso e desde então que todos os dias vou lá. Encontro sempre um pombo a quem dou comida. Neste momento já está mais gordo que um macaco gordo. Este pombo tem um comportamento inusitado, diferente e até suicida. Mantém-se quieto num sítio muito dele e deixava que as pessoas se desviassem, nunca fugia de um eminente pontapé. E foi isso que me atraiu nele. Aquela segurança, à partida estúpida, mas que transparecia a existência de uma relação forte e coesa com o Universo. Observei-o muitas horas e percebi muito rapidamente que para ele tanto lhe fazia. Vivia simplesmente, como um pombo qualquer, a não ser pelo desprezo pelos passos que nunca lhe acertavam e portanto por uma explícita ausência de medo. Quando voava, voava como os outros e não se podia distinguir dos demais, mas quando pousava, pousava e ficava. Um pouco como aqueles homens que sabem o que querem. Olham, gostam, e ficam, até que um dia são compreendidos e ficam sozinhos. Darem-se a conhecer é fundamental e incontornável para todos e eles fazem-no tão bem, tão convicta e naturalmente que o mistério desaparece e, já disse, ficam sozinhos. Porém essa solidão é material, porque dentro deles, porque se deram a conhecer ficaram conhecendo, bailam todas as almas que nas deles tocaram. Eu digo isto com algum sentimento de pertença ao grupo, porém, na verdade, não sei, só sei que tenho almas a bailar dentro de mim.
Se calhar amanhã não vou encontrar naquele átrio o pombo que tanto me fascina e se isso acontecer não faz mal; já o tenho dentro do peito, única forma existente de se possuir verdadeiramente outro e qualquer ser vivo.
Se conseguiram visualizar o pombo...ele vos pertence.
Passei lá uma vez por acaso e desde então que todos os dias vou lá. Encontro sempre um pombo a quem dou comida. Neste momento já está mais gordo que um macaco gordo. Este pombo tem um comportamento inusitado, diferente e até suicida. Mantém-se quieto num sítio muito dele e deixava que as pessoas se desviassem, nunca fugia de um eminente pontapé. E foi isso que me atraiu nele. Aquela segurança, à partida estúpida, mas que transparecia a existência de uma relação forte e coesa com o Universo. Observei-o muitas horas e percebi muito rapidamente que para ele tanto lhe fazia. Vivia simplesmente, como um pombo qualquer, a não ser pelo desprezo pelos passos que nunca lhe acertavam e portanto por uma explícita ausência de medo. Quando voava, voava como os outros e não se podia distinguir dos demais, mas quando pousava, pousava e ficava. Um pouco como aqueles homens que sabem o que querem. Olham, gostam, e ficam, até que um dia são compreendidos e ficam sozinhos. Darem-se a conhecer é fundamental e incontornável para todos e eles fazem-no tão bem, tão convicta e naturalmente que o mistério desaparece e, já disse, ficam sozinhos. Porém essa solidão é material, porque dentro deles, porque se deram a conhecer ficaram conhecendo, bailam todas as almas que nas deles tocaram. Eu digo isto com algum sentimento de pertença ao grupo, porém, na verdade, não sei, só sei que tenho almas a bailar dentro de mim.
Se calhar amanhã não vou encontrar naquele átrio o pombo que tanto me fascina e se isso acontecer não faz mal; já o tenho dentro do peito, única forma existente de se possuir verdadeiramente outro e qualquer ser vivo.
Se conseguiram visualizar o pombo...ele vos pertence.
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