domingo, dezembro 18, 2005

Maria II

O navio aportou em segurança no meio do vendaval. Tinha cruzado os mares valentemente, atravessando várias tempestades. E agora, depois do barco safo, a tripulação rejubilava cantando em uníssono um épico sobre o auspício, sentados à volta de uma grande mesa de um bar do porto, cada um com a sua poncha repousando, poderosa, como se fosse dócil e inofensiva.
O capitão levantou a taça ao mesmo tempo que levantava o seu corpo pesado e disse: "Um brinde!"- olhou os tripulantes um a um com a mesma expressão dura onde se denunciava um traço pequenino de satisfação e continuou-" esta foi, talvez, a mais perigosa viagem que fizemos todos juntos; ao passar ao largo da Túnisia, onde tudo indicava bons momentos, fomos atingidos por uma inesperada tempestade que quase nos mandou para o fundo; no Cabo das Tormentas, aqueles ventos de oeste que sobressaíram sobre todos os outros, por pouco não nos lançaram para cima daquele ilhéu, aquela maldita pedra no meio do mar que só serve para rasgar cascos de navios, nem as aves lá param para descansar; mas eis-nos aqui, ao fim de 8 meses, com o chão a bailar-nos sobre os pés que, habituados ao convés, estranham pisar agora a terra firme. É claro que foram voçês 8 os responsáveis principais pelo sucesso deste empreendimento, sem quem eu não poderia nunca fazer nem um quarto do que faço. Estou orgulhoso e profundamente orgulhoso." O capitão abanou a cabeça com as sobrancelhas carregadas e acrescentou-" disse "orgulhoso" duas vezes?" O rosto iluminou-se-lhe num sorriso e ele levantou um pouco mais a voz: " Sim! É isso! Estou duas vezes orgulhoso!" Ao que a tripulação se levantou toda gritando: "Hurra! Vivas ao nosso capitão!" Este, levantando um braço e com uma expressão solene,mostrou-se disposto a dizer mais qualquer coisa e, depois de uma curta pausa, em que o rosto se afigurou extremamente concentrado e preocupado, como que se escolhesse minuciosamente as palavras que ia dizer causando alguma apreensão no grupo disse, reparando que Tomás parecia nesse momento descontraído, sorrindo imperceptivelmente. O capitão então disse: "Agora aproveitem da melhor forma que puderem e...Tomás..." "Só bebo este copo, capitão!" Este sorriu-lhe francamente e levantando o copo exclamou: "Só temos 3 dias. Que os Deuses continuem a fazer por nós aquilo que têm feito e... À nossa!"
A tripulação ergueu-se numa só voz, contente e poderosa, fazendo tremer as mesas e as paredes: "À nossa!"

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