quarta-feira, setembro 11, 2013

Guerra


Os estilhaços soltaram gargalhadas espalhando-se pelo chão. Ele, mergulhado no Guernica de Picasso, na penumbra oferecida pelos candeeiros da rua, vasculhava o tempo e abanava os seus inexoráveis pilares no intuito de no presente poder vislumbrar as vestes brancas e aladas do futuro.
A granada partira o vidro da divisão onde dormia o quinto e o sexto dos seus filhos. Da sala de estar percebeu logo o que tinha acontecido e voou para o quarto atacado. Agarrou no objecto de guerra, e ao atirá-lo pela janela conseguiu distinguir, num ápice, pela expressão comprometida dos ocupantes, o veículo donde saíra o instrumento de morte e, no último instante, dirigir a trajectória na sua direcção. A granada bateu no mar negro do asfalto e rolou, como um bicho-de-conta nas mãos de um menino curioso e brincalhão, até debaixo do carro culpado. Nesse momento, o condutor largou a embraiagem, carregando a fundo no acelerador, provocando a rotação das rodas traseiras sobre si mesmas, castigando o solo construído, provocando uma nuvem com cheiro a borracha queimada. Esse instante em que não arrancou foi-lhes fatal.

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