terça-feira, dezembro 19, 2006

S.O.S

Um momento de criação num instante de inspiração leva-me a antecipar o que ainda está por dar. Fechado num espaço aberto onde o que está longe está também perto, uma voz de silêncio mergulha e invade, só ficando o contacto visual; não está mal. Teremos mesmo medo de olhar uns para os outros? Pica, não doi; arde, destroi. É tarde, tarde demais para estares sozinha. Tarde demais para não saberes o que queres. É tempo de deixares que as nuvens te acariciem os cabelos, o rosto, a pele, os dedos, as mãos, e sentires que, em vez de precisares de alguns poucos ou até de toda a gente, precisas sobretudo de ti, única porta de contacto que podes de vez em quando abrir para olhares este mundo que não é só bestial mas sim, e também, lindo, e que por pertenceres a ele, porta fechada ou aberta, as leis que nele imperam existem apenas para te ajudar a salvar o anjo que dorme dentro de ti, sonhando, inspirando o amor que de quando em quando sentes por tudo. Mas que posso falar ao falar-te do anjo sem te declarar determinantemente que esse anjo é o teu filho, aquele que ainda está por nascer.
Podia convidar-te para irmos a Paris passar o Natal, tomar um café, até já o fiz, lembras? Mas prefiro pensar que te posso levar a ver pela primeira vez o mar, carregando-te com estes braços que só ganham forças porque se querem conhecer e que de tão vazios se tornam incómodos para te escrever. Ver, olhar para ti antes que o mundo desabe, e o mundo está sempre a desabar, será, simplesmente, sendo, o que ainda não sabemos que é. E agora, não sabendo, não te posso recordar, imagino-te, construo-te num processo instantâneo que me enche o peito de uma dor saborosa. É tudo um sonho, não existe mais nada agora, no meio de tudo, no meio de nada, para além da determinação que tenho em não te defraudar: eu não sei quem és, eu não sei quem sou.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial