quarta-feira, março 22, 2006

Romance

Lembravam dois cisnes enamorados, aquelas duas crianças de sorriso seguro no rosto e fitando-se demoradamente nos olhos. O parque estava cheio de meninos e meninas que exploravam os baloiços e os carroceis, mas aqueles dois tinham-se colocado a um canto e dir-se-ia que se conheciam há já trinta anos. Ela dizia-lhe, "espera!" e, enquanto ia ao canteiro das flores, ele seguia-a com o olhar tranquilo e brilhante de amor. Ela voltava e oferecia-lhe a flor dizendo que ele era tão bonito quanto ela. Então era a vez dele; levantava-se, escolhia a flor que lhe parecia mais bonita do canteiro e oferecia-a timidamente mas advertindo:"nem esta flor, que é a mais bonita que já vi, consegue ser tão bela como tu!" Ela sorria-lhe ainda mais, contente e embriagada com as palavras.
E estavam nisto há horas, alheios às brincadeiras das outras crianças. Trocavam carícias, beijos e palavras doces. Um autêntico romance.
Tinham-se visto pela primeira vez naquela tarde e expontaneamente se sentaram e começaram a namorar. Lembravam dois cisnes enamorados. E eu, agora, é como se estivesse para ali, sentado no banco do jardim, a tirar fotografias para transportar na cabeça, para onde quer que vá, e para as invocar, especialmente em momentos como este, em que à frente só vejo um caminho infinito e cheio; cheio de vazio.

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