O moço de 25 anos
Suspirou profundamente e exalou a palavra-mãe “vida”; depois e de imediato
pensou a palavra-madrasta “morte”. Uma sem a outra não poderiam existir, como a
palma e as costas de uma mão.
Porém, o cansaço era tanto que, à medida do tempo subtraía a
palavra-mãe e adicionava cada vez mais serenamente a palavra-madrasta.
O avô censurava nele aquela predisposição para a escuridão e
dizia-lhe, tu ainda és novo e bem-parecido meu neto, abre os olhos para a
beleza desta nossa terra e arranja uma namorada! Ao que o moço respondia perguntando-lhe
zombeteiro, Em que prateleira de que supermercado existem namoradas???
O cansaço do moço de 25 anos advinha-lhe de pensar
profundamente naquilo que representava para a sociedade e para o mundo. A crise
existencial grudava-se-lhe à pele como um fato justo de mergulho; e
mergulhava-o em grandes jornadas de pensamento meditativo, sofrendo no auge
desse pensamento e na pele, o facto de ainda haver tanta fome e sofrimento desnecessários
no mundo. E o que mais o magoava era não vislumbrar no seu círculo social
alguém que lhe desse uma resposta gratificante. Todos quantos contactara sorriam
dando-lhe uma palmadinha nas costas: É mesmo assim, não te devias preocupar com
isso...
E assim anda o mundo do dia para a noite e da noite para o dia.
Menos de metade da população bem servida e indiferente à maioria sofredora; e este
sofrimento alheio apertava-o tanto e com tanta força que um dia não esteve com
meias medidas: Bebeu uma cerveja gelada com dois frascos de comprimidos para
dormir; brindou à vida em jeito de despedida e deixou-se adormecer. Nesse momento,
uma criança de uma casa perto, abriu muito os olhos e desatou num pranto inconsolável.
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