O professor
Desde que atingi a maturidade que acordo cheio de força e cansado.
Os primeiros pensamentos foram para o objecto do meu trabalho. Os segundos para um senhor que encontrei há uns 9 anos atrás.
Eu estava a cursar em Lamego. Norte de Portugal. A nossa escola tinha um acordo com uma cantina aonde iam também funcionários públicos. Eu ia sempre almoçar lá.
Houve um dia em que me apaixonei por um velho. Tinha à volta de 75 anos. Tinha uma figura elegante, boa largura de ombros, alto, cabelos completamente brancos e compridos e um rosto severo e carregado de rugas saudáveis.
Atraiu-me à primeira vista. E a partir desse dia dei comigo todos os dias a procurá-lo com o olhar.
Via-o quase todos os dias.
Passado um mês ganhei coragem e pedi licença para sentar na sua mesa. Os seus olhos não tinham vida... Mas assentiu pronta, digna e muito educadamente, inclinando a cabeça. Sentei-me e, no decorrer da conversa, contou-me que era reformado, que tinha sido professor do 1º Ciclo. Eu, entusiasmado com o facto, contei-lhe logo que estava a estudar para ser professor. Ele não respondeu e ficámos em silêncio. Foi ele que o quebrou dizendo:
“ Eu fiz muito mal na minha vida!”
Todos nós erramos, respondi.
“Mas eu fiz mesmo muito mal!”
Perguntei-lhe, Que mal é que fez?
“Bati muito nos meus alunos! Durante muitos, muito anos!”
Olhei para aquele santo à minha frente durante dois segundos e afirmei a olhar para dentro dos seus olhos negros e baços:
“Mas há lugar para o perdão!”
Ele não disse nada. Acho que não falámos mais nada. Continuei a procurá-lo com o olhar todos os dias. Nunca mais o vi.
Hoje de manhã, quando pensei nele, perguntei-lhe:” Mas batia nos alunos quando eles se portavam mal, não?” Esperei pela resposta. O seu silêncio consentiu-me concluir:
“Então não fez mal! Fez bem!”
Quero deixar um grande abraço e desejar as melhores vitórias a todos os que utilizam a sua força, inteligência e meios para repudiar, segundo os seus próprios valores, o que não está certo, melhorando assim, à sua custa e todos os dias, o meio humano que os rodeia.
Os primeiros pensamentos foram para o objecto do meu trabalho. Os segundos para um senhor que encontrei há uns 9 anos atrás.
Eu estava a cursar em Lamego. Norte de Portugal. A nossa escola tinha um acordo com uma cantina aonde iam também funcionários públicos. Eu ia sempre almoçar lá.
Houve um dia em que me apaixonei por um velho. Tinha à volta de 75 anos. Tinha uma figura elegante, boa largura de ombros, alto, cabelos completamente brancos e compridos e um rosto severo e carregado de rugas saudáveis.
Atraiu-me à primeira vista. E a partir desse dia dei comigo todos os dias a procurá-lo com o olhar.
Via-o quase todos os dias.
Passado um mês ganhei coragem e pedi licença para sentar na sua mesa. Os seus olhos não tinham vida... Mas assentiu pronta, digna e muito educadamente, inclinando a cabeça. Sentei-me e, no decorrer da conversa, contou-me que era reformado, que tinha sido professor do 1º Ciclo. Eu, entusiasmado com o facto, contei-lhe logo que estava a estudar para ser professor. Ele não respondeu e ficámos em silêncio. Foi ele que o quebrou dizendo:
“ Eu fiz muito mal na minha vida!”
Todos nós erramos, respondi.
“Mas eu fiz mesmo muito mal!”
Perguntei-lhe, Que mal é que fez?
“Bati muito nos meus alunos! Durante muitos, muito anos!”
Olhei para aquele santo à minha frente durante dois segundos e afirmei a olhar para dentro dos seus olhos negros e baços:
“Mas há lugar para o perdão!”
Ele não disse nada. Acho que não falámos mais nada. Continuei a procurá-lo com o olhar todos os dias. Nunca mais o vi.
Hoje de manhã, quando pensei nele, perguntei-lhe:” Mas batia nos alunos quando eles se portavam mal, não?” Esperei pela resposta. O seu silêncio consentiu-me concluir:
“Então não fez mal! Fez bem!”
Quero deixar um grande abraço e desejar as melhores vitórias a todos os que utilizam a sua força, inteligência e meios para repudiar, segundo os seus próprios valores, o que não está certo, melhorando assim, à sua custa e todos os dias, o meio humano que os rodeia.
publicada por Filipe às
7:45 da manhã
2 Comentários:
Isso mesmo! Cada um faça o que puder para manter-se firme em seus propósitos.
Até mais.
Aqui fez-se uma revolução pelo povo há 35 anos. Ouvi dizer que uns quantos fugiram para o Brasil. Se souberes quem são não me digas que não quero fazer de ti uma delatora.
Filhos da Cobardia
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