o cinto
A madrugada respirava ainda o
orvalho frio e delicioso quando ele despertou. Vestiu as calças de pele de
cabra e colocou o cinto. Saiu de casa sem comer, como sempre, e
começou a caminhar.
A cidade tinha espaços verdes com
árvores centenárias. Ao redor, penedos e rochas cinzentas olhavam para baixo,
vigiando o movimento das plantas e folhas nos fortes mas flexíveis ramos das árvores mais novas , que naquele momento se
agitavam calmamente em consonância com a leve brisa que soprava como um assobio
de velho treinado.
Caminhou sessenta e dois minutos
e tudo estava calmo; as primeiras pessoas a sair de casa faziam-no contentes
por viver mais um dia na sua metrópole. Uma espirrou, tirou o lenço do bolso e
assoou-se; outra olhava para sul e sorria para a lua em quarto minguante; outra
conduzia freneticamente o seu carro; ele viu-os aos três. Ao ver o carro a
descer rapidamente a avenida principal franziu o sobrolho. Nesse momento, uma
folha, levada por uma brisa mais forte,
foi embater no vidro do condutor embriagado que se assustou e guinou para a
esquerda, perdendo o controlo do veículo; este, como um bicho de conta
acossado, deu várias voltas sobre si mesmo e parou ao lado da estrada, em cima
de um relvado, como se estivesse a descansar.
Ele correu, tirou o homem do
carro, e percebeu que o irresponsável tinha uma grave hemorragia na perna
direita. Tirou o cinto e fez um garrote acima da ferida.
Deixou o homem e correu durante
vinte sete minutos, até ao quartel. Depois de certeiras informações, quatro bombeiros
deslocaram-se rapidamente com ele até ao local do sinistro. Mais tarde veio-se
a saber: graças ao cinto de cabedal a vida do infeliz fora salva.
A partir desse dia passou a carregar uma dúzia de elásticos no bolso de dentro do casaco.
A partir desse dia passou a carregar uma dúzia de elásticos no bolso de dentro do casaco.
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