quinta-feira, março 20, 2014

Domingo

 
Às tantas da noite, quando podia estar preso a ti, sossegado , abro os olhos para uma madrugada solitária que esta cidade onde vivo tem também ela horas para o sono. O tempo está fresco e convidativo; a lua brilha cheia por entre nuvens que atravessam o céu como exércitos de almofadas tenras.
O cão dá conta do meu despertar e salta, contente, na eminência de um passeio nocturno. Visto-me rapidamente e abro a porta. O cão, como sempre, é o primeiro a sair. A plenitude da sua alegria é tal que, só por ela, dou a insónia por bem ganha. Dou a volta ao quarteirão e quando chego perto de casa vi que tinhas acendido a luz. Entrei, apreensivo, sabendo que para ti as noites tinham de ser bem dormidas. Abriste a porta da rua antes de ter colocado a chave na fechadura. Quando abro a porta vejo-te com os cabelos em desalinho e sinto um aperto no coração. Uma sensação forte que me liga inexoravelmente a ti.
Deitámo-nos os dois com a confiança de que o momento era, por si só, tudo o que de momento tínhamos. O amanhã estava enclausurado entre o futuro e o passado. Amámo-nos e trocámos juras de amor. O cão adormeceu e eu, quando dou por mim, estou novamente com os olhos abertos e já a noite tinha passado, para a primeira luz do dia assegurar a todos a promessa de um novo dia.
Bom dia, disseste. Bom dia respondi.  E com uma carícia acrescentei, Volta a dormir meu amor, o dia ainda nem é uma criança. Sorriste e voltaste a dormir de imediato. Fiquei a admirar o teu semblante, mais bonito que nunca.
Fiquei louco por saber que o domingo estava a chegar e que ia poder passar o dia todo contigo. Um dia todo contigo...

segunda-feira, março 17, 2014

dar a vida por

Entre fábulas conquistadas à luz da força que irradia de ti, escuto a voz de outrora, aquela que já se fazia apresentar, milénios anteriores à data em que a Natureza inventou o sexo; uma voz potente e intolerante que ressoava pelos confins da terra primitiva até se ter misturado com a canção mesclada de infinitas partículas que se foram combinando até que os primeiros seres deram á luz por si só para originarem aquilo a que hoje chamamos vida.
Mais fácil é acreditar em Deus…
Os problemas existenciais têm raízes tão antigas quanto a memória; e Cristo surge e é construído com alicerces ancestrais e ultra reais. Cada um de nós tem Cristo insertado no seu código genético e se formos ao confins do nosso inconsciente encontramos inexoravelmente o problema da vida e a morte, surgindo à luz da mente o conflito entre “viver” e “dar a vida por”
Em cada um de nós se encerra um fim; Em cada um de nós existe o instinto de sobrevivência; e este instinto entra em conflito com a ideia da própria morte. E que melhor prenda podemos dar ao nosso ser, senão a aceitação desse mesmo fim? Senão a libertação para esse mesmo fim?
Cristo optou por morrer, libertou-se do que é terreno e deixou-se levar para a cruz; mas, se formos a ver bem não foi nada assim de tão especial: a crucificação era banal e prática corrente naqueles tempos de Império Romano e depois, não esqueçamos o filósofo grego Sócrates que quatrocentos anos antes da morte de cristo também optou por morrer bebendo o copo de sicuta.

sexta-feira, março 07, 2014

Fausto