terça-feira, agosto 29, 2006

Audio

Gostava que o dessidi ao abrir tocasse uma canção que tenho num cd. Ando às voltas há uma hora e não consegui nada. Vou continuar a buscar mas aceitam-se dicas... Musalia??

segunda-feira, agosto 28, 2006

Dóminó

Foi bom ver os velhos jogarem o dóminó. Ficam muito tempo em silêncio a escolher a pedra para jogar e depois, em silêncio, ficam à espera que os outros joguem e chegue a sua vez. Quase dá para ver o passado que têm agarrado às costas, ali, como um grande gigante que logo é sacudido e esborrachado para nenhures, quando a partida acaba e eles desatam em comentários sobre o que se passou em cima da mesa, parecendo ter outra vez 20 anos... Nova partida, novo silêncio. E o gigante de cada um agarra-se novamente às suas costas, resoluto, como uma lapa.
Foi bom ver os velhos jogarem o dóminó.
E nós, que somos novos, alegres, parvos, analfabetos, nós que para lá caminhamos, oremos aos deuses e à providência para que, quando lá chegarmos, possamos ter lugar numa mesa com as sete pedras para jogar.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Bodhisattva

não respondi ao comentário e o sonho ela não contou
é claro que estou interessadíssimo em ouvi-lo!
E uma voz surge do fundo de uma nuvem cansada de tanta água carregar: "ouve os pássaros!"
Depois começa a chover,a nuvem desaparece, e timido, um pássaro poisa no umbral da minha porta e desata a cantar.
Isto faz-me lembrar uma história com alguma...(avaliem-na voçês)
Num templo onde monges viviam, estudavam e aprendiam, havia um dia em que o mestre discursava para todos. Ora certa semana esse dia chegou e, ao romper da manhã, o mestre subiu para a tribuna. Quando foi para dizer a primeira palavra um passarinho poisou no suporte dos livros e desatou a chilrear. Quando o pássaro se calou, levantou vôo e foi-se embora.
O mestre então disse abandonando a tribuna:
"o discurso de hoje está concluído, até para a semana!"

Saramago

Gostei muito do As intermitências da morte; foi como andar de cavalo, às vezes a trote, outras a galope e ainda com suaves e deliciosas paragens para melhor contemplação da paisagem. A narrativa acaba numa grande fraude, como se o cavalo se levantasse, apoiado nas patas traseiras, jogando-nos para o meio da erva; porém, a queda sabe bem, não obstante magoar ao de leve os sentidos, não fosse ela uma fraude.
Feitas as contas: Parabéns Sr. Saramago. Gostei muito da sua história!

quarta-feira, agosto 23, 2006

Ó da barca!

Estás pois condenada a crescer...e que bom é crescer...

sábado, agosto 19, 2006

Sonho

Ontem levatei-me tarde e porque um amigo foi lá bater à porta....Eram 11h30.Passado 10 minutos ele foi a casa para me trazer feijão verde e abóbora (é daqueles amigos que oferecem comida porque sabem que não há melhor presente. No intervalo em que se ausentou liguei a televisão e a segunda ou terceira notícia que veio até mim foi a da erupção de um vulcão, não sei onde. Automaticamente me lembrei de um sonho que tive: tinha "rebentado" um vulcão e nós ficámos a ver a beleza do fenómeno. Lembro-me de dizer,"que bonito não é? Todos estavam deslumbrados com o espectáculo.
Coincidência? Ou, Tudo está interligado!,?

quinta-feira, agosto 17, 2006

Princesa

No princípio não havia nada. Depois, a luz entrou nos olhos dele. Cegou-o. Ficou tão aflito que perdeu o equilíbrio e caiu estatelado no chão. Desmaiou ali mesmo e o que o acordou foi uma voz serena de uma mulher que logo imaginou bela, de cabelos negros, pele bronzeada pelo sol, dotada de sentimentos bons e dona de uma barriguinha linda. Uma autêntica princesa. E foi assim que se lhe dirigiu, Princesa?, Sim, Não vejo, Pensas que não vês, ora abre os olhos!
Ele abriu os olhos e o nada apareceu-lhe à frente na forma e côr da noite escura, Não vejo, repetiu. Ela fechou-lhe os olhos numa carícia e depois beijou-lhe as pálpebras ternamente. Duas lágrimas brotaram dos seus cegos olhos e ela disse, Eu sou tua, abre os olhos, já passou.
Ele abriu, viu-a, e os seus lábios transformaram-se num sorriso.
Quando de seguida se abraçaram já não se percebia quem era quem. Apertaram-se com tanta força que começaram a fundir-se e a entrar um no outro. Foram rapidamente absorvidos pela húmida terra fértil.
Naquele sítio, anos depois, cresceu uma árvore de um tronco gigantesco que se bifurcava simetricamente até à altura de vinte andares.
Hoje é o centro de um grande parque, as crianças são magneticamente atraídas por ela e passam o tempo a correr e a dançar à sua volta. Os adolescentes cravaram-na de corações apaixonados, os adultos experimentam uma estranho e insondável sentimento e os velhos, que sabem já e definitivamente tudo o que a vida lhes ofereceu e negou, dizem, Olhar para aquela árvore dá... qualquer coisa como... conforto...sim, é isso: olhar para aquela árvore dá conforto!

terça-feira, agosto 15, 2006

águas, virgulas e inscrições

Estive fora, de férias, um mês, com uma intrerrupçãozita de 4 dias..., e, como nadei muito no Algarve, consegui, comparando as águas, relembrar a primeira sensação que tive das águas madeirenses, há 4 anos atrás.
Hoje posso, sem receio de opiniões fundamentadas de biólogos marítimos ou, se os houver, de geólogos aquáticos, afirmar, categoricamente, : as águas daqui são mais densas, mais espessas, mais boas!
Estão convidados a vir verificar. tragam só um colchãozinho de campismo e um saco de cama. na sala cabem 8. no terraço outros 8. Há duas camas para os mais velhos e se houver mais inscrições tira-se à sorte para ver quem dorme na cozinha, que tem lotação para 3 pessoas.

domingo, agosto 13, 2006

O amor

não é ver as estrelas cairem do céu; é olhar para cima, vê-las brilhar e não deixar de as ver à passagem de uma, duas ou três nuvens. O efémero não o caracteriza, não o abala, nem o ameaça. O que o caracteriza é o presente numa aliança que nem o ferro nem o ouro conseguem igualar, uma aliança onde a palavra vai servindo de base de construção ao que já existe: As almas gémeas! encontram-se, compreendem-se e juntas caminham e atravessam as mais espessas paredes...
Caminham no presente que é sempre um presente, e em serenidade rumam à eternidade que é a labuta e o descanso do dia após dia.
Não vislumbro nada mais belo.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Verdade

Não há só uma verdade, há varias, e todas elas tomam várias formas
Essas formas são todas rodeadas pelo balão da ilusão,
pelo que a verdade por si própria não existe; o que existe é o que para nós é verdade.
Se furarmos o balão a verdade morre e torna-se numa mentira.
E ainda bem, se assim não fosse não seria possível sermos humanos.

terça-feira, agosto 01, 2006

A perdiz perdida

"Cruzava os campos, no seu carro desportivo, a uma velocidade moderada. A determinada altura um bando de perdizes cruzou-se à sua frente. Uma mãe inquieta com os seus jovens filhos apressados em segui-la, batia as asas o mais rápido que podia. Todos fugiram menos um, que insistiu em manter-se à frente do carro. Ele bateu-lhe com o farol esquerdo. Parou e foi ver o resultado. A perdiz, perdida, estava quieta e deixou-se apanhar com a calma de um gato feroz. Ele pegou nela, olhou para dentro dos seus olhos e ficou estupefacto. Neles viu um grande túnel a desembocar no infinito, onde brilhava uma pequena luz; uma luz que começou lentamente a aumentar de intensidade até que ficou tão forte que era insuportável; porém, havia nele uma irreprimível necessidade de não a abandonar. Estava hipnotizado. A luz do fundo dos olhos da perdiz perdida hipnotizou-o ao ponto de se deixar cegar. Quando se deu conta que estava cego estranhou, pois em vez de ver tudo negro via tudo branco. Caiu de joelhos e morreu ali, na estrada, perto do seu carro. A perdiz escapou-se dos dedos mortos do homem que ainda a apertava, docemente. Depois, voou em direcção do sol. Por baixo dela, a sua sombra não era a de uma perdiz pequena perdida e indefesa e ia queimando as ervas que tocava, à medida que passava."
Esta história contou-ma um velho que encontrei à beira de uma estrada, a semana passada.
"O anjo negro, disse-me por final, voltará a atacar, e tu, tu és a próxima vítima; quando vires a luz, meu bom amigo, não permitas que te cegue! boa sorte!
"Mas..."disse antes de ser prontamente interrompido por ele:"não posso dizer-te mais nada."
(dedicado à jovem perdiz que eu hoje quase matei na estrada).